segunda-feira, 30 de maio de 2011

SEREIA DOS SONHOS - por Leonard M. Capibaribe


Entre tantos outros sons, o seu consegue ser o mais atroador, devastando minha audição e me fazendo perder o equilíbrio. Desejo mais do que isso e é esse querer que me desconcentra, perco as pernas que me sustentam só de lembrar. Sereia dos meus pensamentos, metade mulher, metade sonhos, completa de todo imaginar. Cânticos mudos, rimados de ventanias, sorrisos e perfumes, risos de alegria. Sibilando sobre o mar onírico do descanso tardio, deixa carícias que causam ondas e nelas me deixo levar entregue a correnteza. Solto as amarras e a deriva, flutuo em pensamentos irreais e vontades tentadoras. Não existem espaços não marcados por sons que de tão presentes, ecoam na mente, cantarolando noites não dormidas e promessas não cumpridas. Quando chego no final desse litoral utópico, encontro ali seu rosto, sorrindo como um paraíso crescente. Esqueço tudo ao meu redor e me concentro apenas no vermelho dos seus lábios e o chamado do seu olhar. Canções inaudíveis me atraem de encontro as rochas, desavisado dos perigos da costa, viro náufrago nessa ilha. Vivo então dos encantos, canções da mulher inatingível, pois sempre que me aproximo mais distante ela esta, mas dos meus sonhos nunca sairá.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

SOLVENTE - por Cronicando

em 24/05/2011


          Eu vi o suco de uma tulipa amarela sendo utilizado para formar um pigmento, que bordou a palavra “amor” em pergaminho sutil. O tempo tictaqueou e o papel resistiu amarelado. O debruçar das letras era hercúleo.
          Eu vi as estações passando e nada mudou. As intempéries não conseguiram maltratar o que foi plantado.
          Eu vi uma lágrima desfalecer no pergaminho sobre o nobre sentimento e embrenhou-se com ele pelas fibras da celulose. Não via mais a palavra. Só o corpo se enrugar de dor.
          Agora resta esperar o tempo secar a mancha e ver se a pele deformada comporta nova palavra. Não vejo outra saída.
          Quem sabe neste papel não vejo o desenho de uma tulipa amarela? Quem sabe uma letra vã? Ou uma ideia sã?
          Olho o horizonte. Vejo ou não vejo a primavera chegando? Que ela venha depressa.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

UMA "ESCRIVAGUI" - por Cronicando

            Volto a esta página no meio do dia e antes que o inverno chegue. Alguma frente fria se aproximou e o clima está delicioso. Mudança climática significa mudança em diversos campos do nosso dia-a-dia que afeta até o humor.

            Na minha casa humor sempre muda para melhor, pois com as crianças que tenho, tudo é muito divertido. Principalmente quando diz respeito ao Gui, que com a ansiedade dos seus dez anos, volta e meia nos presenteia com boas risadas. Com a alteração da temperatura vem roupas novas para prepararmos para o frio. Minha esposa comprou algumas. Obviamente todos adoraram.

            Foi na manhã seguinte às provas bem divertidas, que minha esposa chega em casa depois de uma saída breve e encontra o Gui que acabara de acordar, todo produzido como se fosse a uma festa.

            - Gui! Esta roupa é nova. É para sair. – Advertiu a mãe.

            Ele retruca com toda naturalidade, estatelado no sofá sem tirar os olhos da televisão.

            - Mãe, a roupa nova acabou e chegar da rua. Ela quer ficar em casa. A velha que precisa sair.

            É, amigos! Estas são nossas crianças.

            Recordo-me de uma ocasião em que ele tinha pouca idade. Minha segunda filha se chama Ana, carinhosamente chamada por nós de Aninha. Ela, já na escolinha, fazia suas atividades propostas em uma escrivaninha que dividida com o irmão mais velho.

            Ocorreu que o Gui estava em prantos e não entendíamos a causa. Preocupados, perguntamos ansiosos e aguardamos a condição que ele necessitava para conseguir se expressar em meio a muitos soluços.

            - É que eu quero uma escrivagui.

            - Como? – Obviamente não havíamos entendido nada.

            - A Aninha tem uma escriva”Aninha” e eu quero uma escriva”Guiiiiiiiiiiii”. - Disparou.

            Não basta ser pai, temos que aprender a nos comunicar. Por isto escrevo.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O CAMINHO DAS PEDRAS -por Cronicando

            Acordo cedo hoje. Os doces sonhos da noite diamantinense me revigoram a alma e me deixam com uma esperança renovada. Não sei por que, mas sinto-me revigorado como este sol que clareia mesmo por detrás das nuvens. No horizonte das Minas Gerais daqui, emergem juntamente com o sol, as formações rochosas em meio ao cerrado. Todas apontando na mesma direção, como se estivessem me mostrando o caminho.

            - É para lá. Um pouco a sua direita. Para o alto. -     Ansiosas para que eu me decida.

            O sol ajuda amparado pela calma da ansiã sabedoria. Um gavião plana suavemente abaixo da varanda do hotel. Enquanto a brisa para mim é suave, ele próprio faz a velocidade do vento que bem lhe apraz.

            Volto-me a mesinha da varanda quando começa a chuviscar. Numa pilha de baralho a minha frente, viro a primeira carta. Um ás de copas. Não sou supersticioso, mas adoro jogos. São desafios deliciosos.

            “A”, a primeira letra. A primeira carta. Carta transporta mensagens. Copas, coração, emoção.

            Recordo-me agora do livro criado por Markus Zusak, “I am the Messenger”, onde o protagonista, sendo um “zero” a esquerda, como ele mesmo se caracteriza, torna-se determinado a fazer o que é preciso.

            Olho novamente a paisagem, novamente me levanto. Abaixo dos morros que insistem em me indicar um caminho, está a cidade palco de lindas histórias. Ilustres mineiros que escreveram páginas memoráveis no livro da vida. Chica da Silva, Juscelino Kubitschek, para não citar todos. Guerreiros que deixaram o exemplo de perseverança na busca do que acreditam.

            Será que eles ouviram estas montanhas? Será que trecho da minha história ainda falta escrever? Agora me dou conta de que todos somos escritores. Se não escrevemos em papel, escrevemos pelos exemplos de vida. Só não escreve quem não vive. Só não lê quem não tem olhos de ler. Arrisco-me a dizer que não saber ler a letra viva da existência é pior que não saber ler no sentido literal.

            Volto para o ás de copas. Uma letra, três corações. Na mesa, papel e lápis. Na cadeira a vontade de se fazer lido. Vou seguir as pedras. Para o alto, um pouco para lá.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O PONTO - por Cronicando

Não despreze o ponto. É o conjunto deles que forma a letra.

Não despreze a letra. A combinação entre elas é que compõe a palavra.

Não despreze a palavra. Elas se unem para formar a ideia.

Não despreze a ideia. Todas que se juntam em você, constroem a sua personalidade.

Não despreze o ponto. Você é composto deles.

Tudo começa no ponto e é ele que determina o fim.