segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

VAMOS FILOSOFAR? - por Kenny Rosa

Temos muitos momentos na vida. Na minha humilde opinião, o mais importante deles é o que nos tira da maquinal reação diária de cada instante sempre igual ao outro. Vivemos situações das quais sabemos que virão, sabemos como reagiremos e o que advirá de nossas escolhas.
Eis, portanto, a pergunta que não quer, ou melhor, não deve parar. Sabemos os porquês? Entendemos as origens? Qual a ligação entre as opções que fazemos e suas consequências? E outras tantas questões que nos faz viajar por horas, por anos, por anos-luz a procura de explicações. Quem somos? De onde viemos? O que vem depois? Como tudo foi criado?
Aqueles pequenos instantes nos remete a oportunidade de nos igualarmos às crianças. Elas não conhecem o mundo de início. Tudo é novidade. Cada situação corriqueira para um adulto é para ela uma novidade incrível. Tão incrível como se um objeto desaparecesse da sua frente e reaparecesse. Nada diferente de um arco-íris ou um botar de ovos de uma galinha.
                Quando abstraímos o que aprendemos como óbvio temos oportunidade de criarmos, pelo raciocínio lógico, definições outras para qualquer coisa. Muito ainda não tem explicação, muito ainda há que se descobrir do que já foi clareado antes.
                A filosofia nos proporciona descobertas fantásticas. Não se aprende filosofia. Pode-se aprender a história da filosofia, suas descobertas, a sua evolução ou aprender a pensar filosoficamente, mas a filosofia em si não se aprende. Exercita-se. Toda vez que nos dispomos a sair do casulo em que nos encontramos de um mundo já descoberto e nos colocamos a questionar e pensar, estamos exercendo filosofia.
                Uma boa forma seria formulando perguntas a nós mesmos. Perguntas que nos faça buscar as respostas cada vez mais profundas à luz do raciocínio lógico. Só não nos referimos aqui a “ironia socrática” por não sabermos de antemão o que buscamos. Sócrates usava de perguntas irônicas levando o interlocutor a refletir e encontrar ele mesmos as respostas buscadas, previamente vislumbradas pelo ilustre filósofo. Podemos, portanto, nos aconchegar bem em um diálogo platônico.
                O leitor pode estar se perguntando agora, onde quero chegar com tudo isto. Respondo que não sei com satisfação no rosto. Aliás, como disse Sócrates que viveu no meio de sofistas, “só sei que nada sei”. Quando as descobertas chegam, abrem-se novas portas do buscar. O convite aqui é para que não nos acomodemos no conforto do tudo pronto e explicado e nas facilidades de nossos problemas. Busquemos ir além, pois quem para de procurar respostas, jamais vai se encontrar.
                Se ainda não se perguntaram, eu vos lanço o questionamento: Quem sou eu que vos escrevo? Quem és tu que lês? Sabes a resposta? Seja lá qual for, pense melhor.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A ESTATUETA DO MONTE SINAI - por Cronicando

            Serei breve ao relatar o que agora vos conto pelo simples fato de estar no meio do meu horário de trabalho. Infelizmente a literatura que amo não é meu ganha-pão e nem meu talento. Mas não seria justo se não contasse agora mesmo o que ocorreu na copa, no horário do café da tarde.

            Encontrávamos em meio a um elevado assunto em que tratávamos das coisas espirituais. Falávamos de filosofia de vida e discorríamos sobre a bíblia. Fizemos um leve caminhar ao lado de Moisés pelo deserto por entre o inflamado povo recém liberto da escravidão egípcia.

            Quando estávamos divagando sobre o momento em que o povo aguardava aos pés do Monte Sinai, eis que uma queridíssima amiga diz:

            - Foi quando ele foi buscar a estatueta?

            - ?

            Como assim, amigo leitor? Estatueta? Nem existia cinema naquela época para ter premiação. E a terra árida estava longe de ser um tapete vermelho. Resultado: Risos. Os mais diversos.

            - And the Oscar goes to... – Sita um.

            - Moisésssss. – Completa outro.

            - Pela direção “Na Travessia do Deserto”. – Risos

            - Ou seria por: “Em busca da terra prometida”?

            Os antigos diziam: “muito riso, pouco siso”. Entendo que o pouco siso se referia a pouca experiência de vida o que reflete em pouco juízo. Em se tratando da feição da minha amiga, que nem ouso citar aqui o nome, o pouco siso significa que ela quebraria os dentes de todos e não demoraria muito.

            Bom... Por isto, também, não vou demorar mais neste papel. Espero a compreensão de vocês.

            Só um detalhe. Ela queria dizer tabuleta. Nada mais, nada menos que a tábua dos dez mandamentos.

            Estatueta? Como assim?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

CAFÉ COM LETRAS - por Cronicando

Passam os dias, passam os anos. Os séculos se amontoam na história da humanidade. Temos a cada passo o advento de novas tecnologias, novas crenças. Inventamos novas culturas e recriamos o cenário onde se desenrola todas as façanhas da raça humana na terra. Século XXI e ainda vemos de tudo um pouco, da mais surreal novidade até o mais pitoresco a ponto de nem sabermos que um dia foi uma realidade comum.

Gosto de lembrar que o café faz parte da cultura mineira de uma forma muito intensa. À volta de um bom cafezinho já se tomaram boas decisões, foram criadas boas histórias, verbalizados “causos”, bons risos, assuntos tristes e muitas coisas que demoraríamos linhas e linhas para listar todas.

Mais uma vez um fim de semana na casa da tia-avó de minha esposa. Casa rústica de fazenda com cozinha sem forro e fogão a lenha. Alguns da família ao redor da mesa em boa conversa diante da nova garrafa de café. A última quebrou durante a semana e foi preciso arrumar uma logo, pois um bom mineiro sem um cafezinho não providencia uma boa prosa.

A dona Marlene ficou incumbida de lavar com a água fervida antes de passar o primeiro café. Quando o café foi servido ele apresentava um sabor marcante e um corpo cremoso.

Não, amigo leitor. A dona Marlene não é nenhuma barista. O sabor estava estranho e o café engomado mesmo. Enquanto todos experimentavam e cada “entendedor” dava sua opinião, dona Marlene resolveu investigar dentro da novíssima e linda garrafa térmica amarela.

- Uai! Tem um jornal aqui dentro. – Exclama com o sotaque arrastado.

O jornal que sustentava o interior para não quebrar no transporte não foi retirado.

Isto nos leva a pensar que o mineiro é na realidade além de um bom “cafezeiro” um letrado. Intelectual até. Café traz cultura. Aqui hoje, bebemos café com letras literalmente. Engolimos as informações do jornal de maior veiculação da cidade em um ambiente carregado de história. Eu diria até que o mineiro chega a ser erudito.

Estão servidos? A garrafa já foi devidamente lavada. As letras agora serão conduzidas pela verbalização dos “causos”. Garanto.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

FLACIDEZ - por Marcelo Braga

Plubicado no Recando das Letras em 17/05/2011
Faço foto fico fúlgido
Fito fosco foco fino
Faço fato fito feto
Foice frente faço força
Firo fronte farpa fina
Feito face fico fosco
Frasco feio frágil
Fino fico frente foco

quarta-feira, 1 de junho de 2011

FILOSOFIA PSICODÉLICA DA LETRA - por Cronicando

                Hoje estava um dia ordinário. Tudo normal. Parei para pensar como sempre, claro.
                Pensar. Pesar.
                Tudo muda por causa de uma letra. A letra “n” de “não”, de “nada”. “n” é negação. Aqui apresentado no singular e entre aspas por ser um símbolo que representa uma ideia e não somente uma letra. Se pesar não tem “n”, ele é positivo?
                “n” é um “u” de cabeça para baixo.  Se “n” é negação, o “u” é o oposto? “u” de “universo” que se opõe a “nada”. “u” de “unidade”, um absoluto tão certo que se contrapõe ao “não”. Se pensar e pesar se opõem, porque sempre pesa meu pensar? Talvez porque falta a letra “u” de “união”, de “uníssono”. “Peusar”. Não existe esta palavra na língua portuguesa segundo Aurélio e Houaiss. Imagino que seria algo como pensar positivo.
                Afff... Onde vou com meus pensamentos?
                Parei...
                Parei. Pari.
                Tudo uma questão de letra. A letra “e” de “estancar”, de “estático”. “pari” é a conjugação do verbo na primeira pessoa em ação na geração de uma segunda pessoa. É a ação, movimento. “parei”, que também está na primeiríssima pessoa, se opõe a “pari”.  Estática versus movimento. Estagnação versus força criadora.
                O “e” é pequeno perto do “l”, ambos, quando cursivos, parecem pai e filho. O curioso é que para um bom pensar carece-se de parar muitas vezes. Estas duas palavras se apoiam? Talvez a palavra que a pouco cogitamos uma invenção, “peusar”, deveria ser escrito com “l”. “pelsar”, algo como pensar positivo em movimento. Seria um viver otimista.
                René Descartes disse uma vez para sempre: “Penso, logo existo”.
                Afff... Eu novamente devaneando.
                E por falar em devaneio, uma amiga minha, a escritora Mariana Collares que escreveu “Devaneios Literários”, disse para mim em uma oportunidade: “Penso, logo insisto”. Por mim fico com o: Penso, logo desisto. Ah! Mas é rapidinho que eu desisto. Vou desistir agora e tomar um café que é positivo e estimulante.
                Engraçado.  Mesmo estimulante “café” se escreve com “e” e não com “l”. Pelo menos não tem “n”.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

SEREIA DOS SONHOS - por Leonard M. Capibaribe


Entre tantos outros sons, o seu consegue ser o mais atroador, devastando minha audição e me fazendo perder o equilíbrio. Desejo mais do que isso e é esse querer que me desconcentra, perco as pernas que me sustentam só de lembrar. Sereia dos meus pensamentos, metade mulher, metade sonhos, completa de todo imaginar. Cânticos mudos, rimados de ventanias, sorrisos e perfumes, risos de alegria. Sibilando sobre o mar onírico do descanso tardio, deixa carícias que causam ondas e nelas me deixo levar entregue a correnteza. Solto as amarras e a deriva, flutuo em pensamentos irreais e vontades tentadoras. Não existem espaços não marcados por sons que de tão presentes, ecoam na mente, cantarolando noites não dormidas e promessas não cumpridas. Quando chego no final desse litoral utópico, encontro ali seu rosto, sorrindo como um paraíso crescente. Esqueço tudo ao meu redor e me concentro apenas no vermelho dos seus lábios e o chamado do seu olhar. Canções inaudíveis me atraem de encontro as rochas, desavisado dos perigos da costa, viro náufrago nessa ilha. Vivo então dos encantos, canções da mulher inatingível, pois sempre que me aproximo mais distante ela esta, mas dos meus sonhos nunca sairá.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

SOLVENTE - por Cronicando

em 24/05/2011


          Eu vi o suco de uma tulipa amarela sendo utilizado para formar um pigmento, que bordou a palavra “amor” em pergaminho sutil. O tempo tictaqueou e o papel resistiu amarelado. O debruçar das letras era hercúleo.
          Eu vi as estações passando e nada mudou. As intempéries não conseguiram maltratar o que foi plantado.
          Eu vi uma lágrima desfalecer no pergaminho sobre o nobre sentimento e embrenhou-se com ele pelas fibras da celulose. Não via mais a palavra. Só o corpo se enrugar de dor.
          Agora resta esperar o tempo secar a mancha e ver se a pele deformada comporta nova palavra. Não vejo outra saída.
          Quem sabe neste papel não vejo o desenho de uma tulipa amarela? Quem sabe uma letra vã? Ou uma ideia sã?
          Olho o horizonte. Vejo ou não vejo a primavera chegando? Que ela venha depressa.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

UMA "ESCRIVAGUI" - por Cronicando

            Volto a esta página no meio do dia e antes que o inverno chegue. Alguma frente fria se aproximou e o clima está delicioso. Mudança climática significa mudança em diversos campos do nosso dia-a-dia que afeta até o humor.

            Na minha casa humor sempre muda para melhor, pois com as crianças que tenho, tudo é muito divertido. Principalmente quando diz respeito ao Gui, que com a ansiedade dos seus dez anos, volta e meia nos presenteia com boas risadas. Com a alteração da temperatura vem roupas novas para prepararmos para o frio. Minha esposa comprou algumas. Obviamente todos adoraram.

            Foi na manhã seguinte às provas bem divertidas, que minha esposa chega em casa depois de uma saída breve e encontra o Gui que acabara de acordar, todo produzido como se fosse a uma festa.

            - Gui! Esta roupa é nova. É para sair. – Advertiu a mãe.

            Ele retruca com toda naturalidade, estatelado no sofá sem tirar os olhos da televisão.

            - Mãe, a roupa nova acabou e chegar da rua. Ela quer ficar em casa. A velha que precisa sair.

            É, amigos! Estas são nossas crianças.

            Recordo-me de uma ocasião em que ele tinha pouca idade. Minha segunda filha se chama Ana, carinhosamente chamada por nós de Aninha. Ela, já na escolinha, fazia suas atividades propostas em uma escrivaninha que dividida com o irmão mais velho.

            Ocorreu que o Gui estava em prantos e não entendíamos a causa. Preocupados, perguntamos ansiosos e aguardamos a condição que ele necessitava para conseguir se expressar em meio a muitos soluços.

            - É que eu quero uma escrivagui.

            - Como? – Obviamente não havíamos entendido nada.

            - A Aninha tem uma escriva”Aninha” e eu quero uma escriva”Guiiiiiiiiiiii”. - Disparou.

            Não basta ser pai, temos que aprender a nos comunicar. Por isto escrevo.