sábado, 11 de dezembro de 2010

A PROCURA DE PALAVRAS PARA ESCREVER - por Kenny Rosa

Enquanto procuro algo para escrever nos recônditos do pensamento, caminho pela capital de Minas. Nesta época banhada pelo sol escaldante do verão. Hora do almoço. Andando vagarosamente sem nem perceber as pessoas que passam apressadas, vou divagando sonhos e devaneios. São tantas ideias que surgem para tanta coisa ao mesmo tempo, que seria preciso uma equipe centúria para por em prática. Falta papel e lápis para registrar as futuras crônicas que se misturam num cabedal de vontade de escrever. Talvez seja coisa de maluco, mas presumo que quando estiver ao alcance dos recursos que preciso para o intento... “Cadê” as ideias?

Observo da calçada algo que me desperta o interesse. Sempre há. Como a mente não se decide no que ater, algo lhe rouba a atenção e a oportunidade. Mas não é nada desagradável. Um restaurante alemão em um bairro afortunado daqui. Não falo só de dinheiro. Refiro-me a beleza das pessoas, da arquitetura, riqueza de oportunidades, de tudo.

Percebo uma fachada em estilo enxaimel ou fachwerk (adoro a língua alemã), interior bem caracterizado e aconchegante. Ao adentrar percebo que se trata de uma confeitaria, mas também servem almoços. Dentro, uma música tranquila. Passo pela entrada principal onde temos expostos pães e outras delícias alemãs. O cheiro é maravilhoso. Ao lado do caixa, a minha esquerda, uma portinha. Após o umbral, seguido de pequeno degrau, paro e deparo com um ambiente que me leva direto ao país de origem daquela inspiração temática. Apenas cinco mesinhas com forro típico e duas cadeiras cada. Uma poltrona ao longo da parede frontal a mim, onde um pilar com acabamento de madeira separa duas grandes janelas cobertas da metade para cima por cortinas onduladas, rendadas e brancas. Onde sua alvura contrasta elegantemente com os tons outonais do pequeno recinto. Além das janelas pode-se ver um muro a apenas um metro de distância que suporta grades recheadas de trepadeiras. À esquerda um vidro que me permite observar o movimento lá fora. A direita um balcão de bar bem simples e agradável para onde me dirijo.

Assento-me. Faço meu pedido com prazer, como se estivesse em um típico restaurante alemão em Aachen, onde nunca fui (ainda).

- Einen wunderschönen guten tag! Ich möchte einen salat, weibwurt unt ein weibbier, bitte.

- Moment, bitte. – respondeu a garçonete.

Claro, amigo leitor, que eu não perderia a oportunidade de exercitar, ou talvez gastar, o pouco que conheço do prazeroso idioma alemão. Entschuldigung, aber ich bin sehr neugierig. Das Weibt Du doch!

Enquanto aguardo o pedido, venho tentando lembrar os sentimentos que pairavam na minha mente. Agora tenho oportunidade de deitar as palavras que me circundavam. Como eu previa, sumiram todas. “Cadê?”

Assuntos temáticos, de época, animais de estimação ou em extinção, crianças, neste último quesito tenho material de sobra em casa. Penso em política. Não! Não é meu gênero. Minha pena é mais intrapessoal ou cômica. De repente a imagem de palhaços que rendem boas crônicas tristes. O amor? O riso? A violência no Rio de Janeiro, com a polícia invadindo o Morro do Alemão? Nada. Nem um fio de ideia.

E por falar em Alemão... Eis o meu pedido. Cheiroso e saboroso. Hmmmm. O paladar agradece e o coração degusta por momentos, de um país rico de histórias diversas em situações contraditórias.

Na, dann! Hören Sie mal! Já é hora de voltar. Não vou pedir die rechnung, melhor pedir a conta mesmo. Nunca entendo os números em alemão. Enquanto dizemos trinta e um eles dizem um e trinta. São muito interessantes as diferenças culturais embutidas nas línguas. Está aí um bom material para escrever. Mas agora tenho de ir.

Saí do local e dei de cara com uma realidade brasileira. Não foi ruim, pois adoro minha cidade. O fato é que havia me esquecido que estava no Brasil. Fiz uma viagem em segundos até a Europa, proporcionado por algumas centenas de metros quadrados aqui mesmo. Este lugar representou bem o papel de um bom livro.

O pior é que não consegui pensar em nada para escrever até agora. Acho melhor esperar um momento de inspiração e criatividade. Como foi meu dia? Bem, Obrigado! Pena que o meu dia hoje tenha passado em branco. Na realidade não posso reclamar, o meu dia foi mesmo é preto, vermelho e amarelo. Vielen danke!

3 comentários:

  1. Bom dia

    O tema flui inclusive do nosso próprio questionamento sobre o que falar. Sua mente criativa, nos levou do Brasil à Alemenha, voos ligeiros mas tocantes.
    Bom domingo

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  2. Bom dia cheguei através do blog do Cacá e gostei do seu espaço e crônica.

    Parabéns !
    Vou ficar por aqui.

    Beijos

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  3. Tem horas que a gente deseja tanto escrever, mas as palavras teimam em ficar mudas.

    Meu abraço.

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