sábado, 26 de março de 2011

EU QUERIA VALER A PENA - Por Cronicando

Finda o verão. Pelo menos oficialmente, pois o calor continua nos impressionando. Só pela manhazinha encontramos um pequeno alívio.

Temos renovada também a mostra de arte na galeria da COPASA. O artista André Hauck expõe “Arquitetura em declínio”, onde apresenta através de sua objetiva a impressão que cômodos abandonados em ruínas podem nos causar.

Ao observar, sentimos como se as imagens sussurrassem por falta de forças para bradar.

- Eu gostaria de ser um lugar pelo qual valesse a pena lutar.

Cada local tem sua história enraigada nos tijolos expostos, portas cravadas de balas, paredes queimadas, janelas e portas ocas por falta de vida ou esperança. Tetos desabados, vidros quebrados, cadeira solitária sem futuro, garrafas opacas, rastro de vida. Quando a luz é mais intensa serve apenas parar realçar a dor da saudade que as imagens sentem dos que por ali passaram. Podemos imaginar as lembranças de cada tela após ouvirmos novamente.

- Eu gostaria de ser um lugar pelo qual valesse a pena lutar.

Imaginamos as primeiras pessoas a levantar os locais. Os primeiros habitantes. A alegria das crianças. Uns se vão e sedem lugar a outros que chegam. Nova vida, nova experiência, esperança renovada. Até que as fotos voltam a atenção para o momento atual e percebem que tudo morreu ali. A única expressão de vida é vista no esforço de pouca vegetação sem valor em se fazer presente. 

Os que aqui viveram, se vivem, vivem em outro lugar. Nos braços de outras paredes. Se sentem saudades, não voltaram. Se mantem sonhos para um futuro que inclua este lugar, não tentaram realizá-los. Perguntamos... Por quê? Talvez tenham razão, são locais que não valem a pena. Pelo menos aqueles locais viraram arte e embelezam e dão vida às emoções.

E se André Hauck resolvesse fotografar pessoas por onde anda? Retratar os rostos, os olhares, as expressões que falam por si só. Talvez veríamos a criatura em declínio. Ou talvez não.

E se eu me olhar no espelho agora? O que veria? Ruínas? História morta? Será que eu veria aqueles que por aqui passaram? Os que me amaram? Os que amei? Os endereços que mudaram tantas vezes. Os telefones que já não existem mais. 

Só tenho no momento uma frase em mente.

- Eu gostaria de ser alguém por quem valesse a pena lutar. Custe o que custar.

Um comentário:

  1. Que analogia genial, meu caro Kenny! Erigimos paredes em nome de uma solidez durável. Erigimos grandezas interiores com o mesmo propósito. Muito bom! Abração. paz e bem.

    ResponderExcluir