quarta-feira, 20 de abril de 2011

PALAVRAS ESDRÚXULAS DA LÍNGUA PORTUGUESA - por Cronicando

            A linguagem é algo espetacular. Como estudamos em algum dia na vida, a primeira e mais importante necessidade de todo ser humano é comunicar-se. Sem a comunicação, nenhuma outra necessidade seria saciada. Percebemos os esforços por parte de diversas comunidades em se entenderem. A distância etária, cultural, regional e até entre a capacidade motora e intelectual gera barreiras. O que provoca a vontade crucial de se fazer entender.

            A decodificação da intenção se faz de várias formas, mas vamos nos ater a algo específico na língua portuguesa, o que não significa que não ocorra nas outras.

            Voltemos a nossa atenção para algumas palavras esdrúxulas. Aliás, podemos começar por ela. Não poderiam escolher melhor agrupamento de letras para expressar o que é estranho. O som já nos causa esta sensação.

            Para quem precisa se fazer entender, a sonoridade é tudo. Por exemple a palavra defenestrar. O leitor sabe o que vem a ser defenestrar? Pois bem. Imaginem um jornal estampando a seguinte manchete: Mulher foi defenestrada no décimo andar do hotel em que estava hospedada. Logo pensaríamos: Coitada, vai carregar este trauma para o resto da vida. É preciso esclarecer que só se for em outra, porque do décimo andar não se sobrevive quando se é arremessado. Sim... Defenestrar significa jogar pela janela. Agora reflitamos. Para que esta palavra se a intenção é se fazer entender? Não seria mais garantido dizer que ela foi jogada pela janela?

            Tenho uma amiga que me chama de pândega. Já vou logo avisando a quem está por perto que se trata de coisa boa, para ninguém achar que sou um imbecil. Não por esta palavra.

            Uma vez me perguntaram o que me deixa iracundo. Respondi: Se tudo der certo, nunca ninguém vai chegar perto de mim pra isto. Descobri depois que já chegaram e certamente isto ocorreria muitas vezes ainda. Mas com um grande alívio em saber que iracundo é estar propenso a ira.

            Algumas palavras já são mais conhecidas, como pudico por exemplo. Mas cá entre nós, que palavra ridícula para expressar a característica de alguém que se esforça para não ser chulo. Chulo, não vou nem comentar. De igual modo temos a rubrica, que de tão feia, todo mundo insiste em dizer “rúbrica”. Sem falar em sorumbático, macambúzio, energúmeno, que fariam muitas pessoas arrepiarem e outras tantas agradecerem.

            Atossicar poderia nos levar a pensar em algum xarope caseiro bem doce ou a uma desintoxicação, mas significa dar maus conselhos. O leitor gosta de catadupa? Não é de comer. Trata-se de catarata. Barista não é quem trabalha em bar e sim especialista em café. Farripa não tem nada a ver com aproveitar uma festinha, significa cabelo ralo. Arrabalde é uma cercania e não um objeto de carregar água. Pagela é pequena parte. Alacar não significa o que o leitor está conjecturando. Significa alagar ou ceder à carga. Tá bom... Dá para fazer uma analogia. Não vou nem comentar.

            A próxima, eu vou falar o significado primeiro para que ninguém desista da crônica aqui, se ainda não fizeram. Gorjeta pode ser chamada de xixica. Agora, respondam. Pra que isto? Se alguém te chamar de coquete agradeça, mas não faça muito alarde.

            Ósculo é beijo; édulo, comestível; solipso, egoísta e diga-se de passagem o oposto a solícito. Temos também isagoge, acobilhar, estau, acontista, suble, mesto e por aí vai com inúmeras palavras da nossa língua portuguesa. Tem umas que não tenho nem coragem de colocar aqui. Nem o meu Word identificou as que coloquei, pois o meu texto está todo grifado de vermelho.

            Bom... Vou inerciar esta arasia, este acarear do erudito ao popular, pois careço de cercear o meu ofício. O tempo urge e até o momento não estou imberbe. Para ser mais claro. Vou parar com a conversa “fiada”, porque tenho de trabalhar. Estou atrasado e nem fiz a barba ainda.

            Algum herói chegou até aqui? Prove-me mandando um comentário.

            Até a próxima palavra!

terça-feira, 19 de abril de 2011

A BELEZA DA MULHER - por Cronicando

                 Hora do almoço, longe do que é mais importante para mim, meus amores. Como eu disse outro dia: longe do perto e perto do longe.

                Encontro-me em um restaurante comum em um bairro nobre de Belo Horizonte. Aqui na Savassi encontramos de tudo. De pedintes a contribuintes, de amores a dissabores, do sóbrio ao ébrio, do operário ao dono do seu salário, do belo ao recuperável, para ser delicado. Arrisco a dizer que as mulheres mais belas da cidade trocam os passos por aqui todos os dias.
                Observo o diálogo entre o providencial garção e um cliente que aparentava seus 20 anos, embutido em uma camisa social com manga dobrada até o meio do antebraço, calça social e sapatos pretos.
                - “Ocê” é paulista? – Perguntou com extrema simpatia o garção após observar seu sotaque.
                - Sim.
                - Mas paulista não gosta de mineiro, “uai”.
                - Quem disse? – Retrucou, completando. – “Nóis” gostamos das mineiras, mas dá para trocar uma ideia com os mineiros.
                - Ótima resposta. – Introduziu a bela com aparência de proprietária atrás do balcão.
                Sem pensar duas vezes, emenda o jovem servidor do recinto.
                - As brasileiras mais bonitas são as mineiras e as gaúchas.
                - Concordo. – Sentencia o paulista.
                Fim de papo e ponho-me a pensar. Postura natural de quem gosta de escrever. A mulher brasileira é de uma beleza rica. O país é de uma riqueza de beldades. Concordar com a beleza da rio-grandense é unânime. Também é fato que a mulher mineira tem uma magia entre o sorriso e o cabelo. Porém o rapaz, estando em um território que não fosse o seu, poderia estar tentando ser simpático. O que duvido muito.
                Abro um parêntese, que não implanta aqui uma digressão, para ressaltar a grandiosidade da mentalidade feminina. Inteligência como perfume da alma sensível. São lindas por dentro e por fora.
                Como a crônica é minha e bem mineira, peço licença para concluir com uma opinião bem particular. A beleza da mulher mineira é incomparável. Duvidas? Venham conferir.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

TEMPO-DEUS - por Mariana Collares

 
Tempo-deus de todas as coisas, aos teus pés me ajoelho...



Só o tempo é certeiro, amor, só ele. Só o tempo entrega a cada um a colheita. Só o tempo evoca o passado todo num sopro, antes da hora certa, antes da hora perfeita em que te encontras com ele, lá no fim de ti mesmo. No fim da tua estada. Então pensa, amor, que o tempo é teu pai e tua mãe e tu mesmo indo e vindo. Andando de gangorra, nesse sobe e desce infinito pelo cotidiano e a eternidade toda. O tempo é teu fruto. O tempo é teu luto. O tempo te renova, amor, para o novo. O tempo são as horas de um relógio imenso. E imensamente passam num fluxo. Num sôfrego cansaço de passar constante. O tempo é a ilusão da morte. O tempo, amor, é a imaginação em contínuo descaso. O tempo não morre, está. Já foi. E tu? Foste também até o dia em que te vi, longínquo, num quase eco, murmurando um “eu te amo” totalmente enfraquecido e ausente.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

BULLYING - por Cronicando

            O país chocou-se com a notícia sangrenta e de extrema infelicidade que aconteceu no Realengo no Rio de Janeiro. Um infeliz, empunhando armas de fogo, entra em uma escola e entre diversos disparos abrevia vidas, sonhos, alegrias, experiências diversas de vários jovens de forma cruel e assustadora.

            A sociedade se volta com compreensiva revolta contra o protagonista da inaceitável ação. No decorrer da apresentação exaustiva por parte da imprensa durante os dias que sucederam o ocorrido, percebemos no perfil do assassino alguém rejeitado pelos colegas daquela mesma escola onde ele havia estudado em outra época. Em voga o “bullying”. Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva.

            Nada justifica a atitude do rapaz que sucumbiu morto no episódio. No entanto nos colocamos a pensar e buscar onde se aloja o crime na mente de um indivíduo e na sociedade. O crime reside onde se vetam o direito de cada um ao essencial para se levar uma vida digna.

            O assassino cometeu vários crimes inaceitáveis. Os colegas dele de outrora também os cometeram de igual monta. Está sendo relatado de boca em boca que ele chegou a ser jogado em lata de lixo e até mesmo a ter sua cabeça colocada em um vaso sanitário sob pressão de descarga. Vale lembrar aqui, que em se tratando de alguém doente, como foi o compreendido juntando as peças do quebra-cabeça entregue pela imprensa, as autoridades governamentais também se incriminam todos os dias negligenciando devida assistência.

            Não estamos aqui para julgar. Nossa intenção com estas linhas flutuantes é convidar o leitor para uma reflexão sincera e profunda. Por quem lutamos? Contra quem? Qual verdadeira objetivo nós sustentamos na nossa existência?

            Hoje, com louvável valor, vemos por todos os lados intentos em recuperar o planeta em que navegamos neste infinito universo. Mas onde está a solução? Isto nos faz lembrar algo que lemos uma vez e não recordamos onde foi. “Quando vamos parar de tentar deixar um planeta melhor para nossas crianças e vamos começar a deixar crianças melhores para nosso planeta?”

            Às vítimas e seus familiares, nossos pesares. Que encontrem forças para seguir vivendo e lutando pela felicidade. A todos que tem nas mãos a oportunidade e a responsabilidade de construir uma personalidade, nossa expectativa e rogativa de esforço no bem.

domingo, 10 de abril de 2011

DOCE ADOÇÃO - por Cronicando

          Hoje tenho 37 anos, sou engenheiro, trabalho em uma empresa conceituada, dedico um tempo a cuidar da minha espiritualidade e tenho uma família numerosa e modéstia a parte, admirável.

            Gostaria de chamar a atenção do querido leitor para um tempo há uns quatro anos atrás. Minha esposa e eu tínhamos três filhos entre seis e nove anos. Uma linda menina entre dois garotos. Era um sonho nosso, desde o início do relacionamento, adotar uma criança. Sentíamos que faltava algo em nossa casa. Não formamos uma família abastada, mas também o que temos nos é suficiente. Mesmos assim faltava algo. Na verdade alguém.

            Tinha chegado a hora da tão esperada adoção. O leitor poderia querer entender os detalhes que nos levava a esta conclusão, porém não se tratava de nada calculado ou concreto a nos fazer entender aquilo. Era algo que tocava o sentimento, como as páginas de um conto bem escrito.

            Fizemos por fim o nosso cadastro na fila de adoção e fomos orientados e avaliados pela assistência social do município. Restava-nos aguardar como um período de gestação.

            Quando nos ligaram dizendo que podíamos visitar uma criança, foi indescritível a sensação. Passaríamos por um período de visitas e seriamos observados, o casal e a criança, para identificarem a simpatia que teríamos um com o outro e tudo com foco na segurança do pequenino.

            Ótimo! Fomos para o abrigo no dia agendado. Ao chegarmos recebemos novas orientações e uma informação comovente. O garotinho tinha uns três anos e meio. Não conheceu o pai e a mãe havia falecido naquele ano. Já estávamos no período da tarde quando da visita. A psicóloga nos disse emocionada que naquela manhã ele havia pedido para tomar banho logo que acordou.

            - Uai! Mas você não é disto... Banho a esta hora? O que aconteceu?

            - É que meu pai vem me buscar hoje.

            Desnecessário dizer que o vínculo que tínhamos com esta criança transcendia o tempo e o espaço. Já estávamos ligados pelo coração antes mesmo de existirmos.

Todos nós ganhamos vida nova. Adaptou-se rapidamente o caçula. Experto e arisco, hoje com sete anos, diz que tem dois pais e duas mães todo satisfeito.

Escutamos muitas pessoas dizerem que tem medo de adoção, não conhecem a procedência, a índole, etc. Convenhamos. Índole é algo que se constrói. O coraçãozinho de uma criança é como argila que espera mãos de carinho e amor para uma modelagem. Se ninguém se habilita, a vida se encarrega disto a sua maneira.

Da minha parte, fica aqui o convite a quem quiser ser feliz. Vale cada segundo conviver com uma criança e compartilhar carinho, confiança e aprendizado. Compartilhar vida.