quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

TIRADAS INFANTIS - Por Cronicando

            Uma vez escrevi para os amigos leitores sobre uma façanha do meu terceiro filho. Algo que aconteceu há muito tempo. Confesso que ele é uma fonte inesgotável de material para escrever, mas isto é assunto ao qual voltaremos em outra oportunidade. Como tenho quatro lindos filhos, hoje queria registrar um fato ocorrido, também há uns bons nove anos aproximadamente, com a minha segunda filha.

            Ela sempre foi muito curiosa e comunicativa, aliás, bastante comunicativa. Continua assim atualmente, com o acréscimo de um grande número de palavras ao seu vocabulário. Sou capaz de apostar que ela verbaliza todas elas todos os dias. Por volta do seu terceiro ou quarto ano de vida era uma criança que se expressava com veemência. Parece que supria a carência de palavras ainda não conhecidas por pressão nas cordas vocais. Quando contrariada então... afff... Soltava o verbo com toda vontade e braveza. Hoje não é diferente. Continua ativa e, não poderia deixar de registrar, prestativa e carinhosa.

            Lembro-me que eu estava em uma instituição religiosa, presente em uma reunião para ensaio do coral no qual eu tocava violão. Não tinha com quem deixar minha pequenina falante, então a levei comigo. Eu carregava uma breguíssima, porém providencial pochete. Garanto aos caros leitores que não andava com o referido objeto em torno da cintura, o que não minimizava a baranguisse, confesso. Mas fazer o que? Foi tão útil na época. Carregava objetos que eu precisava utilizar no meu ofício, sem contar que havia acabado de passar na farmácia e adquirido alguns poucos e pequenos produtos que precisava em casa. Remédios para febre, para dores de cabeça e camisinha. O respeitado leitor pode até pensar que eu poderia privá-lo destes detalhes, porém garanto que é importante para o entendimento do desfecho da situação a qual fui exposto.

            Para podermos nos concentrar na tarefa edificante e prazerosa que a música religiosa nos proporciona, permiti que minha lindinha ficasse brincando com a pochete. Ela andava como se estivesse em um shopping com uma bolsa. Penso que sua mente criativa de criança a transportou realmente para as compras. Balbuciava palavras inaudíveis movimentando os lábios como se conversasse com alguém. O problema ocorreu no momento em que ela encontrou o que queria em uma loja qualquer, para a minha infelicidade. Sentou-se no chão do salão, abriu a bolsa para pagar as lúgubres compras efetuadas e eis que depara com um pacote desconhecido. Sim, caro leitor, o pacote de camisinhas.

            E foi naquele momento, quando o silêncio se instalou após execução de uma peça suave e penetrante na nossa alma, que minha pequena ergueu o referido objeto, cortando como navalha a minha introspecção e postura quando o vi. Com o braço em riste, entoou as palavras que eu não sabia quais seriam, mas temia de antemão.

            - Pai, eu quero bala.

            Pois é. Em meio às faces rubras e quentes, olhares e sorrisos amistosos, pus-me também a sorrir.

            Uma criança é assim, preenche a nossa vida das mais inusitadas formas. Todas muito bem vindas.

Um comentário:

  1. hehehe! Que micão, hein? Eu me lembrei do Pedro Bloch, cuja família era dona do grupo Manchete e tinha uma revista homônima. Ele publicava uma coluna com peripécias infantis com uma narrativa gostosa como esta sua. Acho que acabou virando livro (me lembro que a série se chamava: CRIANÇA TEM CADA UMA...). Abração, Kenny! Paz e bem.

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