Hoje eu acordei mais uma vez!
Graças a Deus estou sem dor e tenho ao meu lado alguém que amo. Meus filhos estão dormindo. O dia já começou e eu não quero levantar da cama.
Como tenho um enorme e incômodo senso de responsabilidade, resisto ao frio e saio da cama. Penso no dia com preguiça, pois tenho aula o dia inteiro.
Queria ficar em casa vendo o jogo da Argentina e Alemanha, um clássico do futebol mundial. Assisti todos os jogos da copa e vou perder o melhor.
De novo meu senso de responsabilidade não me deixa faltar do curso.
Tomei um café frio e parei em frente a TV. Um hábito matinal, ver as notícias do dia ou mergulhar a mente no vazio. O relógio não para e me levanto rapidamente do sofá em direção ao dia. Ele me espera ansiosamente e eu só queria continuar com a mente no vazio.
Entro no carro, ligo o radio e mais uma vez minha mente viaja. Viajava pelo universo da mente, pela história da música, pelo passado, pelo futuro, pelos sonhos e de novo pelo vazio.
Hoje o vazio está sendo meu melhor lugar!
Chego cedo no curso, como sempre. Além de mim, uns "gatos pingados" pelo caminho com tanta preguiça quanto eu. Fui a um lugar com bastante sol e silêncio e pedi a Deus que alimentasse a minha alma com um pouco de paciência e força.
Sou uma pessoa privilegiada. Penso, tenho discernimento, vejo e sinto. O que mais eu preciso?
Talvez hoje, eu precise apenas quebrar a rotina, fazer algo diferente. Quebrar regras, burlar um pouco meu incômodo senso de responsabilidade.
Entro na sala desarrumada e fria. Um aperto no peito que me torna prisioneira de mim mesma. Quero voar como o pássaro que está no galho da árvore lá fora. Se pudesse estaria em frente ao mar. Sentindo o cheiro de Deus.
Quase ninguém veio a aula.
O tempo também estrangula os outros. A prisão não é só minha.
As falas e angustias são muitas, mas poucos estão dispostos e verdadeiramente entusiasmados.
A sala está dividida entre os que tem bom senso e os que não tem senso algum. Com isto minha impaciência aumenta e o meu peito fica cada vez mais acorrentado.
Dentro de mim há uma guerra consciencial. Minha responsabilidade versus a enorme vontade de ir embora. As espadas são afiadas e cruéis.
Até que...
Um sentimento me preenche. Inédito e revelador. As chaves da prisão estão em minhas mãos. Próximas e reais. As cores da vida estão em meus olhos.
Se quero arco-íris eu preciso fazer chover.
Vou embora. E sem guarda-chuvas...
A primeira crônica deste bolg não poderia deixar de ser de uma pessoa tão especial.
ResponderExcluirA vida cotidiana é com certeza massante. Mas gostei muito da sua crônica, me faz repensar como viver, como preencher o vazio, basta ter uma mente poderosa. As vezes buscamos muita coisa, para se ter uma vida alegre, porém sua crônica me fez refletir que o simples fato de lê-la já é enriquecedor.
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