sábado, 22 de janeiro de 2011

A FELICIDADE DE GÖETHE - por Cronicando

            Hoje me sentei em um restaurante charmoso, ambiente requintado e simples. A comida é ótima, proveniente da mente da chef criativa como ela só. Fui muito bem atendido e servido.

            O local já abrigou uma residência elegante e pequena. Traz marcas do que já foram paredes em um salão em “L” com mesas aconchegantes. Da janela a minha frente, avista-se a varanda simpática e logo depois os carros e pedestres que transitam alheios na rua.

            Enquanto aguardava o pedido, observei atrás de mim um quadro cobrindo toda a parede do fundo do restaurante. Nele estava escrito em giz a seguinte frase de Johann Wolfgang von Göethe: “Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira”.

            Palavras fortes, a começar pelo nome do sagaz escritor alemão. A felicidade por si só já nos parece complexa e às vezes distante, plena então...

            O que vem a ser felicidade e o que vem a ser a sua antítese, a tristeza? Cada indivíduo pode depositar o conceito que bem entender, pois cada um tem seu próprio cabedal de experiências vividas que vez por outra, nem ele próprio sabe interpretar. A coleção destes momentos bons e ruins solidifica nossa personalidade à medida que constrói nossas horas. Pergunto: e na plenitude da tristeza, cada dia representa o que? Uma vez que este dia parece interminável.

            Arrisco a dizer, agora em meio às garfadas saborosas de um prato deslumbrantemente lindo, que a tristeza é filha dileta da solidão. Ela só está presente na ausência. Ausência de tudo, de amigos, de ocupação, de esperança, de busca, de ideias, de sonhos, tudo. Neste momento tenho a companhia de um sabor inigualável, um pensamento e a cordialidade de um papel e lápis que aceitam minhas agressões sentimentais sem reclamar. Tenho certeza que quando terminar tudo isto, caminharei pela rua em busca de outra companhia. Até encontrar, esta busca me acompanha para afugentar a tristeza.

            Não desejo aprofundar o pensamento neste momento, mas se tenho tanta companhia, o que sinto agora? Se não é tristeza, porque não estou feliz? Talvez esteja aí a explicação da palavra plenitude. Talvez ela seja a minha próxima e mais necessária busca, pois preciso disto para entender o que é uma vida inteira em um dia. Só espero que a plenitude que eu encontre seja a da felicidade.

            Agora pago a conta. É... Se falamos de plenitude em um dia, preciso organizar meus pensamentos para começar esta busca amanhã, porque enquanto levanto, carrego o estômago feliz e o bolso horrorizado. 

Um comentário:

  1. É, meu amigo, até a plenitude (seja na alegria ou na tristeza) carrega consigo suas vicissitudes.Muitíssimo boa esta crônica! Abração. paz e bem.

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