domingo, 10 de abril de 2011

DOCE ADOÇÃO - por Cronicando

          Hoje tenho 37 anos, sou engenheiro, trabalho em uma empresa conceituada, dedico um tempo a cuidar da minha espiritualidade e tenho uma família numerosa e modéstia a parte, admirável.

            Gostaria de chamar a atenção do querido leitor para um tempo há uns quatro anos atrás. Minha esposa e eu tínhamos três filhos entre seis e nove anos. Uma linda menina entre dois garotos. Era um sonho nosso, desde o início do relacionamento, adotar uma criança. Sentíamos que faltava algo em nossa casa. Não formamos uma família abastada, mas também o que temos nos é suficiente. Mesmos assim faltava algo. Na verdade alguém.

            Tinha chegado a hora da tão esperada adoção. O leitor poderia querer entender os detalhes que nos levava a esta conclusão, porém não se tratava de nada calculado ou concreto a nos fazer entender aquilo. Era algo que tocava o sentimento, como as páginas de um conto bem escrito.

            Fizemos por fim o nosso cadastro na fila de adoção e fomos orientados e avaliados pela assistência social do município. Restava-nos aguardar como um período de gestação.

            Quando nos ligaram dizendo que podíamos visitar uma criança, foi indescritível a sensação. Passaríamos por um período de visitas e seriamos observados, o casal e a criança, para identificarem a simpatia que teríamos um com o outro e tudo com foco na segurança do pequenino.

            Ótimo! Fomos para o abrigo no dia agendado. Ao chegarmos recebemos novas orientações e uma informação comovente. O garotinho tinha uns três anos e meio. Não conheceu o pai e a mãe havia falecido naquele ano. Já estávamos no período da tarde quando da visita. A psicóloga nos disse emocionada que naquela manhã ele havia pedido para tomar banho logo que acordou.

            - Uai! Mas você não é disto... Banho a esta hora? O que aconteceu?

            - É que meu pai vem me buscar hoje.

            Desnecessário dizer que o vínculo que tínhamos com esta criança transcendia o tempo e o espaço. Já estávamos ligados pelo coração antes mesmo de existirmos.

Todos nós ganhamos vida nova. Adaptou-se rapidamente o caçula. Experto e arisco, hoje com sete anos, diz que tem dois pais e duas mães todo satisfeito.

Escutamos muitas pessoas dizerem que tem medo de adoção, não conhecem a procedência, a índole, etc. Convenhamos. Índole é algo que se constrói. O coraçãozinho de uma criança é como argila que espera mãos de carinho e amor para uma modelagem. Se ninguém se habilita, a vida se encarrega disto a sua maneira.

Da minha parte, fica aqui o convite a quem quiser ser feliz. Vale cada segundo conviver com uma criança e compartilhar carinho, confiança e aprendizado. Compartilhar vida.

Um comentário:

  1. Parabéns, Kenny, por este gesto de mais elevada nobreza. Um ato sublime. Mesmo com tanta gente nesse mundo disposta a adotar uma crinça, ainda é longa a distância entre quem necessita e quem se dispõe a tal grandeza humana. Um abraço grande. Paz e bem.

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